🌱 Uma pessoa em querer-dizer
Lambrequim 152 te desafia a lembrar quais músicas você ouviu na última semana
Oi, como você está?
O Lambrequim desta semana chega num misto de espontaneidade na escrita e streamings com músicas feitas por IA. Eis o que preparamos para a edição 152 do nosso semanário incidental:
🌱 Um convite pra você participar de um grupo de estudos de HQ;
🌱 Uma seleção de links para você combinar emojis, relacionar músicos & explorar uma coleção de vídos maravilhosos;
🌱 Uma investigação sobre a decadência do jornalismo musical;
🌱 E uma cisma para tentar tornar sua escrita mais espontânea.
É isso! Compartilhe o Lambrequim com seus amigos e boa leitura!
PROJETOS DO LADO DE CÁ
Grupo de estudos de HQ com inscrições abertas!
por
Inspirada pela minha pesquisa de mestrado, resolvi abrir um Grupo de Estudos de HQ na Gibiteca de Curitiba!
Os encontros serão quinzenais e presenciais, sempre nas quartas-feiras, das 16h às 18h.
A proposta é, no primeiro encontro, fazermos uma lista de quadrinhos variados para lermos cada quinzena, e promover discussões sobre como os autores construíram cada narrativa gráfica.
Para se inscrever no grupo, basta clicar aqui e preencher o formulário.
NUM UPA!
⚡ Watch Something Wonderful é uma coleção de vídeos interessantes.
⚡ Um banco de dados com mais de 400 mil copypastas.
⚡ Com que rapidez você consegue passar de um músico para outro usando artistas relacionados?
⚡ Escolha dois emojis para fazer um novo emoji combinado.
INVESTIGAÇÕES MUSICAIS
O fim do jornalismo musical
por
Recentemente, o Bandcamp fez uma redução em sua equipe, dispensando 58 funcionários de um total de 120, aproximadamente metade de seus principais membros da equipe editorial.
Surpreendentemente, o Bandcamp, que era visto como um empregador mais estável e lucrativo em comparação com muitas outras empresas de mídia, tomou essa medida. Sua controladora, a Epic Games, está projetada para gerar uma receita próxima de um bilhão de dólares este ano, porém, parece não estar interessada em investir em jornalismo musical.
Esse não é apenas um problema isolado no mundo dos escritores de música. As demissões estão se espalhando por todo o setor musical:
A Universal Music anunciou demissões.
O YouTube anunciou demissões.
O Soundcloud colocou-se à venda após duas rodadas de demissões em 18 meses.
O Spotify anunciou demissões.
O Tidal também anunciou demissões.
A Amazon Music demitiu funcionários em três continentes.
Quase todas as plataformas de streaming de música estão considerando aumentos de preços, o que sugere uma estagnação no crescimento de novos usuários e uma tentativa de maximizar os lucros dos usuários existentes.
O problema vai além dos compositores musicais — algo está profundamente errado neste ecossistema musical. A verdadeira causa dessa crise pode ser analisada passo a passo:
As grandes gravadoras optaram por focar em lucrar com músicas antigas e ouvintes passivos, tornando difícil o lançamento de novos artistas.
Elas investiram pesadamente na aquisição de catálogos de músicas antigas.
Enquanto isso, as plataformas de streaming promoveram uma cultura de escuta passiva, onde os ouvintes mal conhecem os nomes dos artistas ou das músicas.
A idealização era direcionar os ouvintes para faixas geradas por IA, propriedade das plataformas de streaming, eliminando assim a necessidade de pagar royalties aos músicos.
Essas estratégias têm tido sucesso, levando a uma diminuição do interesse do público por novas músicas e por conseguinte, a necessidade de escritores. Este é apenas o início dos problemas enfrentados pelo setor musical.
Este texto foi traduzido e adaptado do original “Why Is Music Journalism Collapsing?” de Ted Gioia.
CISMAS
Escrita é ato antes de ser forma e conteúdo
por
Chega a ser um clichê pensar que o processo de escrita é composto, basicamente, por duas fases: a criação e a edição. O professor e teórico literário Massaud Moisés afirma que o escritor só escreve na fase da criação — e no restante do tempo torna-se apenas um leitor de si mesmo. Não poderia concordar menos com ele, já que tenho primazia pelo ato da escrita em si, e alguns dos momentos mais presentes que experimento acontecem enquanto escrevo.
A escrita que se diz criativa não cria nada, apenas replica. Nesse amontoado de réplicas, nos vemos selecionando o que se enquadra do que não, encarando o refugo como ruim, malfeito, mal planejado. O consumo constante de uma infinidade de textos que se enquadram, faz com que percamos a primazia pela expressão pura e simples.
Aqui não é gosto que importa, mas expressão e efeito. Por que alimentar um sistema que prioriza a réplica quando podemos seguir o caminho da espontaneidade? Ao invés de escrita espontânea, temos escrita engessada. Um corpo travado.
Pare de ler por um instante e comece a se movimentar, mas focando seu pensamento no próximo texto que você quer escrever. Ande pela casa, ou na rua. Se tiver louça para lavar, lave. Regue as plantas. Passe aspirador. Coloque umas roupas pra lavar. Mas faça esses movimentos externos movimentando também o seu interior, com o pensamento naquela sua última ideia nebulosa.
Mantenha seu caderno por perto. Quando a ideia começar a se clarificar, pare tudo que estiver fazendo e comece a escrever. Se travar, retome o movimento.
O movimento do corpo é o movimento da escrita. Escrita é ação como tudo mais, e pode engessar com um corpo travado em teorias, fórmulas e ideias de outras pessoas. O estudo é sempre complemento, nunca saída. É como uma curiosidade que nos instiga a abrir novas portas.
A escrita espontânea é, então, o mais próximo que somos capazes de chegar à expressão do puro pensamento. No lugar do planejamento, temos um derramar direto da fonte, sem elucubrações demoradas nem falsa erudição. A escrita torna-se espontânea quando simplesmente acontece, porque é ato antes de ser forma ou conteúdo.
Ao invés de travarmos uma batalha tentando produzir dentro de gêneros e espécies, a escrita espontânea é apenas um texto jorrado por uma pessoa em querer-dizer. O que essa escrita virá a ser é, então, resultado da edição de um leitor de si mesmo — e só então poderíamos, se assim quiséssemos, enquadrar o texto de acordo com sua forma e conteúdo.
Ter acesso a tantos textos prontos, dos mais variados formatos e assuntos, pode ser a maldição de quem está em busca da criação e da autoexpressão. Receber o muito de tudo sem experienciar o processo criativo é tentador: saímos em busca de fórmulas prontas, de atalhos para sermos criativos. Todos esses desvios tolhem nossa espontaneidade.
A mera tentação de contar as palavras do que estamos escrevendo já é um indício de que não estamos nos permitindo a devida liberdade. Temos receio de ficar muito ou pouco tempo dentro do processo criativo, como se isso definisse a qualidade do que estamos produzindo. Corrigimos antes mesmo de sabermos o que estamos, de fato, querendo expressar.
A pergunta “sobre o que vou escrever?” é um caminho dificílimo de percorrer, porque pressupõe não apenas um assunto, mas também um formato. Ou seja, racionaliza o ato. A pergunta mais adequada é “o que meu corpo quer escrever?” É então que passamos a sentir as ideias, não apenas dentro da cabeça, mas por toda sintonia que nossos corpos têm com o mundo. O mundo que cada um de nós experiencia é o mundo que cada um de nós escreve.
Agora vá lá, se mexa um pouco. Sintonize com o corpo do mundo, mantendo seu caderno por perto. E então, quando a ideia brotar, espreite e escreva.






